segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ex-isto (ou hesisto)

A ordem dos termos não importa aqui. Tanto fizera tomar a primeira palavra como subscrita, ou o inverso. O que me fez escrevê-las, no entanto, é o significado de total incorrespondência que elas estabelecem assim que postas lado a lado. São dois universos tensos num limite cáustico, contrastantes em suas origens, indicadores de estados de existência distintos. Dois neologismos, porém: "ex-isto" e "hesisto". Trocadilho barato e desimportante, típico de quem não tem nada a dizer.
O primeiro viera-me de um amigo (umamentiraamais.wordpress.com), que me presenteou com este nome (mal sabe ele). O significado atribuído, todavia, chegou só mais tarde, enquanto eu meticulosamente masturbava impropérios num papel. Uma ânsia por conceituar, refletir, brincar com as palavras.
Ei-la. Ex-isto.
Primeiro de tudo, denota um fim. Não é preciso um blog para saber que tudo o que é "ex-algo" indica um momento passado; ex-alguém, ex-quando, ex-onde. Da mesma forma, atribuo a qualidade de "ex-isto" a toda determinação agora indeterminada. É o processo inverso que caracteriza as coisas, que as torna inteligíveis. Em matéria de poesia, principalmente, lanço mão deste trocadilho como ferramenta de perspectivação. Para não oferecer muito pano à manga, restringir-me-ei essencialmente à poesia. Caso eu não seja claro, sempre poderei recorrer ao sustentáculo último dos literatos e dos poetas: a subjetividade.
Ora, não adianta fugir agora. Faço uso do "ex-isto" para re-signifcar, para questionar, para entender. Tiremos a essência das coisas! Vejamos o que sobra! Desvelemos a superfície crua que recobre os sentimentos, e as ideias que fazemos deles; essa superfície naturalizante e subjugadora. Desconstruamo-la.
Hesitação. A irrevogável contra-parte disso tudo. O faux pas que nos lança de volta à aceitação da realidade, à resignação contrita, àquele sorriso sacana das pequenas coisas. Hesitar, hoje em dia, não exige reparações nem desculpas, é algo cotidiano e despido de vergonha. Hesitamos em praticamente todas as matérias: pessoas, livros, roupas, psicotrópicos... A hesitação remonta o princípio da incerteza do "mundo moderno"; está presente em nossos desejos, em nossas escolhas, no carpe diem das revistas e dos corpos tatuados.
Existir e desconstruir, existir e hesitar (existir é hesitar ?). Incorrespondência tão viva essa, indissociável daquilo que somos, certificado de autenticidade de nosso ser estatutário. Contradição de uma dialética de quem não tem nada a dizer.

2 comentários:

  1. Bom Rafa, viajando neste texto, posso cocluir que não ex-isto..., mas se existir é hesitar, é desconstruir e reconstruir, reinventar a rotina, então existo sim, com todas as imperfeições e temores!
    Acho que é isto, ou ex-isto...
    (agora vai, hein?)

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